Viva Isso

Viva Isso
Pro parkour Against Competition.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Livre

O que nos motiva a praticar o Parkour? Todos os dias eu me faço essa mesma pergunta, muitas vezes - e com razão - sem resposta.

Vivemos em uma era de tecnologia avançada, com as modernidades do dia a dia fazendo tudo por nós. Eu poderia estar em casa praticando Parkour em segurança, através de jogos incríveis como Freerunning, Mirror's Edge e Brinks (esse último ainda me permite atirar nas coisas enquanto faço Parkour). Com o advento da realidade virtual, fico curioso em saber quanto tempo falta para que todos os nossos sentidos sejam incluídos em softwares. Portanto, eu sigo perguntando: "Por que raios eu faço Parkour?"

Bom, essa resposta eu já descobri, recentemente, durante um treino com os amigos. Conforme eu disse anteriormente aqui no blog, costumo praticar no horário da madrugada - quando há menos gente nas ruas e eu só posso contar comigo mesmo. Não que eu ache louvável: um policial dificilmente entenderia o que estou fazendo e podia caracterizar o ato como vandalismo (ou mesmo invasão de propriedade, se o praticante for imbecil o suficiente para escalar o muro de uma casa). Contudo, sem alguém para assistir, preservamos a totalidade do nosso Ego e evitamos que o orgulho ou a arrogância nos dominem. Sozinho, só treina quem realmente gosta, pois o que você sabe fazer e que é aprovado por todos logo se torna monótono. "Modinhas" só conseguem treinar por alguns minutos quando o assunto é aprender algo novo. Dificilmente se vê um "moda" persistir em uma técnica ou manobra considerada "fácil demais" (como saltos que requerem precisão e equilíbrio - não sei o porquê, mas pular de um meio-fio para o outro me veio à mente), simplesmente pelo fato dela não atrair público. Por isso eu prefiro as madrugadas.

Pois bem. Esse treino, no entanto, não foi de madrugada. Foi à tarde. Estávamos Kinésis, Motoca, Douglas e eu saltando os meio-fios e treinando equilíbrio, quando eu percebi que aquilo me fazia sentir bem. Ao saltar de um canteiro maior para um local de espessura fina (ainda próximo ao chão, claro) e tentar equilibrar-me ali em cima, percebi que eu era livre. Ao saltar em um "cat leap" do meio-fio para outra mureta, lembrei que aquele lugar parecia ridículo antes. Eu JAMAIS havia conseguido realizar façanha tão simples. O Motoca me seguiu e continuamos o passeio.

Aqui cabe uma explicação para o que fazemos na Bela Vista. O local, como eu disse antes, é repleto de canteiros, grama, alguns lugares altos (nada maior que dois metros de altura) e um campo de areia cercado de uma mureta (que se transforma em muro alto em alguns pontos mais elevados. O local, antes, era um morro. O ponto de encontro e início das atividades se dá na escada de uma lanchonete que abre ali à noite. Como à tarde ela fica fechada, o primeiro salto se dá daquela escada para os meio-fios. Ela, também, é cercada por uma mureta fina à base de gesso, que evitamos ficar pendurados para que não desabe conosco. nada alto, o lugar é seguro e ficamos ali horas a fio. O objetivo na praça é jamais cair. Um é escolhido para iniciar um trajeto e todos o seguem. Se um cai, é obrigado a voltar ao começo. Se o "líder" cai, ele volta ao começo e o segundo assume a dianteira - podendo remodelar o trajeto à medida que vai descobrindo novos locais para se equilibrar, apoiar e saltar. Esse treino não possui vencedores e perdedores, possuindo um único objetivo: superação. Se o líder te leva para um local de difícil acesso, você tenta no seu limite. Nenhum praticante é melhor que o outro e tais limites são respeitados. Nós, que sempre fomos arrogantes, entendemos o valor do medo e como é difícil superá-lo. Quem está começando agora vai levar dias, meses ou anos para chegar a um estado de contemplação que nós ainda nem sabemos se existe. Todos ali são (o mais importante) amigos: queremos chegar lá juntos, sorrindo e, o melhor de tudo, livres.

Entenderam onde quero chegar? Parkour te dá liberdade. De pensamento, ação e emoção. a adrenalina nos vicia á medida que obstáculos antigos são superados e substituídos por outros ainda mais difíceis. Nós queremos mais. Eu, particularmente, quero recuperar meu tempo perdido. Já disseram que eu era bom no Parkour, mas, vendo o que faço hoje, aquilo era uma falsa impressão de alguém que sempre foi "moda". Eu tenho uma visão privilegiada dos fatos. Não culpo as pessoas que buscam fama e dinheiro. Acho que o mundo é assim mesmo. Eu, assim como meus amigos, só quero fazer Parkour. Quero descobrir que posso ser uma pessoa melhor do que eu era antes - na vida, nos esportes e dentro de mim mesmo.

E ser livre. Sempre.

Um comentário:

Lucas Mota disse...

Ótimo texto, também me sinto Feliz ao treinar não só Parkour, mas qualquer atividade fisíca!